mulher-caminhando | Sobre a VidaOlá. Neste tempo de recolha, de recato no lar, tenho vindo a mexer e remexer em coisas antigas, sejam físicas sejam espirituais, numa tentativa interminável de pôr ordem no que não tem necessariamente de estar ordenado. Nada tem uma sucessão obrigatória nem tampouco lógica, apenas o é cronológica. Deixemo-nos de "borboletas". Hoje vou (re)publicar uma história que foi escrita em vários dias. Cada dia, uma reflexão, um estado de espírito. Criei a Alice...para depois perceber que a Alice sempre existira, não fora criada. A história chama-se "A Grande Caminhada da Vida". Espero que gostem e vos faça pensar em algumas coisas que não seja habitual mas que são fundamentais para esta grande caminhada diária.







A grande caminhada da Vida

Alice, mais uma vez, sente que na sua caminhada tem de parar um pouco para descansar e refletir. Dá mais uns passos, ainda que vagarosamente, para logo se sentar um pouco naquele banco de luz. Senta-se e sente-se encantada. Deixam-na ficar só por instantes para que se abstraia da vida presente. Ao seu lado encontra um livro. Abre a capa florida e apercebe-se que é o livro do seu passado, o livro da sua vida. Alice consegue ler um período de 5 anos em que já era adulta. Lê e revê alguns dos momentos. Alguns apenas, pois muitos deles, até lhe custa a crer que foram de facto vividos por si, mas identificou referências importantes que provaram a sua envolvência. Riu com algumas coisas, emocionou-se com outras, compreendeu outras que na altura questionava. Mas sobretudo percebeu que morremos como nascemos. Nascemos com aptidões que desenvolveremos ao longo da vida ou não, está nas nossas mãos. Se nasces  empreendedor, assim serás pela vida fora. Se nasceres preguiçoso nada te fará alterar. Se o amor for o teu caminho, serás amado e saberás amar. Não adianta esperar que alguém se altere à imagem daquilo que pensas que a pessoa poderá ser um dia. Ou é desde o nascimento, ou não será nunca. Alice compreendeu os erros que cometeu. Sempre os mesmos erros com pessoas diferentes. Sempre os mesmos erros porque Alice é sempre a mesma e espera o mesmo de pessoas diferentes. Alice percebe agora que não tem de esperar absolutamente nada de ninguém. Não adianta esperar nem procurar. Alice é um peça de um puzzle incompleta de um único lado. Só uma outra peça encaixará em si. Com as mesmas cores. Dando continuidade à grande obra que será o puzzle de um conjunto de pessoas entre familiares e amigos e outras pessoas que se cruzam na sua vida. Alice respira fundo, fecha o livro e pousa-o cuidadosamente nas mãos de um anjo que entretanto se sentara ao seu lado, colocando uma asa à sua volta, aconchegando o seu coração. “Vai confiante” – disse ele. E Alice partiu, continuando a sua caminhada de cabeça erguida.



A grande caminhada da Vida II

A caminhada é longa e a noite aproxima-se. Alice arrasta os passos. Parece que os pés estão ligados diretamente aos olhos que já só abrem até meio. Estão ambos pesados. O cansaço acumula-se mas Alice acha sempre que tem forças para continuar, para fazer tudo o que esperam de si. Sim, porque ela já não exige nada de si própria, apenas aquilo que os outros esperam para que assim mantenham a ilusão de uma Alice forte e decidida. Como fora outrora. Como fora no tempo da liberdade partilhada, despreocupada, onde a vida decorria na linha do abismo, equilibrando sentimentos que hoje são interditos. E Alice dormia sempre, descansada, serena, tranquila. Depois inventaram o stress e a ansiedade aliados às responsabilidades. 

Vai para casa no caminho que sabe de cor por entre as flores, por onde pode fechar os olhos e ser conduzida pelo aroma das pétalas, na esperança de acordar na manhã seguinte com um beijo suave por entre dois raios de sol.




A grande caminhada da Vida III

Alice caminha entre a bruma. Recorda a vez em que na sua caminhada, do nada, lhe surgiu de frente um comboio que lhe parecia um comboio de sonho. Nos carris bem traçados e alinhados, ele deslizava convidativo a uma viagem de fantasia. Silencioso no andamento e leve, cada carruagem era pintada delicadamente sobre um tema que tocava as almas mais sensíveis, tornando impossível recusar entrar numa que fosse. Alice entrou. Assim que entrou, foi envolvida por uma música suave que a enebriava aliada ao toque de um ser que não via, mas que lhe fazia sentir bem. Deixou-se levar e fez uma curta viagem. Gostou muito e pensou que poderia voltar a viajar naquele comboio para outros locais, podendo assim adquirir novos conhecimentos e experiências. Guardou o local de embarque e esperou. Certo dia voltou e de novo entrou noutra carruagem. Tudo se repetiu. A música, o toque do ser que sentia mas não via, até mesmo a viagem. Alice gostava mas já conhecera o trilho. Queria mais. Queria percorrer outros caminhos a bordo daquele comboio, queria poder sugerir um outro rumo, queria animar a viagem com pó de fada e duendes, queria pô-lo a voar ! Mas parecia não haver mais passageiros para além dela... Alice embarcou uma terceira vez no comboio de sonho, ciente de que podia ser a última viagem sem ter os pés no chão. A viagem foi igual mas já sem música. O comboio não deslizou, dava pequenos saltos enquanto percorria aquele traçado habitual e cansativo já. Nada de novo. Alice chegou ao fim com uma lágrima no canto do olho. Ao descer, olhou para trás para acenar e sentiu-se observada das carruagens supostamente vazias. Não voltou a embarcar. Cada vez que o comboio passa, ele apita e ela sorri. O caminho de Alice está traçado, e deve fazer-se pelo seu pé, caminhando.


A grande caminhada da Vida IV

Continuava calmamente passo a passo, com o pensamento livre. Em cada passo a certeza de um caminho percorrido, deixado para trás, um tempo que não voltaria. Desde cedo que impôs a si mesma não se permitir ter saudades do passado. O que passou, passou. Nada de arrependimentos. A saudade puxa o lamento, a nostalgia do momento vivido, atrasa o andamento, encurta o caminho que se tem potencialmente pela frente. Alice levanta a cabeça para caminhar digna e decididamente, fazendo o melhor que sabe para aproveitar cada momento de vida. É então que um dos seus pensamentos fica preso na rama de uma árvore e a obriga a abrandar. Já não é uma árvore jovem. No entanto, as flores decoram-na num tom cromático do vermelho ao azul… Alice percebe pelo perfume de cada flor que se trata da árvore das suas paixões. Cada uma com um aroma. Cada aroma, um estímulo. Um estímulo para continuar em busca da paixão seguinte. A paixão pela natureza é talvez a maior e a que fundamenta todas as outras. As conversas com o mar entre a terra e o céu, o permitir que a voz da floresta entre no seu coração, deixar-se levar pelo cântico da lua ou ser abençoada pela chuva, receber humildemente a carícia do sol da mesma forma que contempla as estrelas numa noite de Verão… ahhh e as noites de trovoada em que cada relâmpago a recarrega de vida ! Alice sente-se poderosa nessas noites de imensa carga elétrica ! Ai… tanta paixão em flor nesta árvore… vem daí toda a força que a move, que a impulsiona no seu caminho de vida, pois a paixão é fogosa, quente, ardente e as raízes da sua árvore estendem-se até tocarem nas raízes da árvore do amor. Alice é apaixonada pela vida e assim continuará. Arruma o pensamento e segue, com esperança. Sempre.

A grande caminhada da Vida V


Alice caminha de cabeça baixa. Está triste. Sente-se só. Uma coisa é estar só, outra é sentir-se só. Está frequentemente rodeada de seres idênticos a si. Uns riem, outros falam, outros passam simplesmente por si. Outros há que sem falar, estão em permanente contato consigo mentalmente, pois o coração emite uma onda magnética que os mantém em contato permanente. Mas hoje nem esses. Alice caiu. Não está só – sente-se só. Envolta em pensamentos dúbios, hipóteses rebuscadas de traições, colocando até em causa as opções do caminho, o otimismo não abunda de todo. Sabe que as incertezas fundamentam o que não tem fundamento porque é incerto, proliferando a idiotice. Não consegue parar. Há um grito interno clamando por sossego. Mas é um grito surdo, apenas detetável  pela sua consciência que a tenta encaminhar pela via da razão. Também há dias assim. De revolta. Alice sabe que o consolo virá da capacidade de saber esperar. Da sabedoria alcançada com a maturidade. Mas é difícil a espera. Alice questiona o caminho, questiona se tem capacidade para saber esperar. Hoje não. Hoje nada. É melhor nada fazer. Amanhã será um melhor dia para continuar, sem sombras. Pausadamente Alice fecha os olhos e o coração, e descansa.


“cego
de ser raiz

imóvel
de me ascender caule

múltiplo
de ser folha

aprendo
a ser árvore
enquanto
iludo a morte
na folha tombada do tempo “


© MIA COUTO
In Raiz de Orvalho e outros poemas, 1999


A grande caminhada da Vida VI



Durante a noite, algo chamou a atenção de Alice. Brilhou instantaneamente. Entre tropeços e sorrisos, encontrou-o no meio dos sonhos. O brilho que viu era o reflexo dos seus cabelos, soube-o mais tarde. E a partir daí, em cada gesto seu seria correspondida com gesto idêntico. Em cada desejo, em cada pensamento. O coração batia-lhe mais depressa sempre que o imaginava. Na sua presença a respiração diminuía porque lhe bastava estar ali. Havia magia. Palavras para quê quando a dança resume tudo… espelho encantado numa noite de Verão ! Delicadamente, Alice beija-o e junta-o ao seu peito antes de adormecer, não o quer quebrar por nada, é único. Guarda-o no coração para sempre ao mesmo tempo que uma lágrima rola até aos lábios. E sorri.



Há qualquer coisa que não está bem... Alice sente os pés frios. Olha para baixo e vê água no seu caminho. A água, esse elemento que tudo consegue invadir contornando cada pequeno obstáculo, engolindo e arrastando tudo à sua passagem quando em quantidade. A sua força pode ser brutal. Mas que água turva é esta, de onde veio ? Alice está próxima do pântano... à sua passagem há mãos que  surgem do chão tentando desequilibrá-la para que seja sugada por toda aquela lama viscosa. Ela continua por aquela pequena ponte de pedras que se desmorona à sua passagem. Alice sabe que não pode voltar atrás. E sabe também que se colocar mal o seu pé pode acabar com tudo. Rebenta um trovão e a chuva escurece a visão do caminho. É então que do nada as árvores lhe estendem os ramos trémulos e a ajudam na tempestade. Há uns que se partem, outros a que não chega. Mas há um que a sustenta. Parece não terminar nunca esse ramo. É o ramo da vida, do amor que a gerou e que mesmo frágil suportará sempre as suas debilidades. Está sempre lá, até um dia também ele partir. Alice toca-lhe e sente a energia a renovar-se em si. Sente que tudo pode vencer. Não haverá pântanos, tempestades, ventos que a travem. Alice é luz e não haverá sombra que a apague. Ergue os braços aos céus e mais uma vez agradece. O caminho faz-se caminhando. De cabeça erguida !


Caminhava com uma sensação no peito diferente de todas as que já sentira. Um vazio, uma falta... tocava o amor, sem dúvida. Sentia falta de um abraço que há muito não tinha, de um colo que sabia não voltar a ter porque crescera, tinha falta daquele aconchego que tinha em menina, do mimo que não tinha fim, das cantigas populares que jamais conseguirá reproduzir... queria enfiar o nariz naquele peito macio e fofo de paz e amor que sempre lhe transmitiu segurança e confiança. Seguiu aquela força que a chamava. Era saudade. Saudade daquele amor cheio sempre presente, Ainda é a sua pequenina. Sim. Voltou a senti-lo. Só o olhar diz tudo e tudo compreende. E voltou ao caminho com a certeza de que o será sempre, para sempre. E ela será sempre a sua paz, a sua tranquilidade mesmo quando partir. Cada vez mais distantes, estão no entanto cada vez mais próximas... no sentir, no amar.


Alice despertou com os primeiros raios de sol que insistiam em penetrar por entre as pétalas da flor gigante em que adormecera na noite anterior. O seu perfume encantara-a de uma forma misteriosa. O seu efeito foi de tal forma que Alice foi transportada para um reino de magia durante a noite, sob o olhar atento da lua. Tudo era colorido, tudo interagia e se completava de forma natural sem qualquer explicação ou obrigação. E o colorido, integrava todas as cores e tons, tal como a existência dos seres desse reino que se compensavam entre si simbioticamente. O equilíbrio era visível. Havia liberdade suficiente para que cada um não interferisse na liberdade do outro. Não havia invejas porque o interesse principal era a felicidade do "outro". Descentralizando do próprio umbigo, eles encontraram a felicidade pois estando o "outro" feliz, trariam a felicidade para os seus corações tornando-os aptos para a sua própria felicidade. E foi aí que Alice reencontrou a amizade verdadeira, no sonho... Agora acordada, não se deixa mais levar por perfumes, embora o encantamento do mistério seja uma constante na caminhada.







Alice estava sentada no baloiço suspenso, preso aos sonhos. Baloiçava lentamente entre um e outro sonho quando sentiu a presença daquele ser pequenino de bochechas rosadas. Pingo era uma gota de afeto que aparecia quando a sombra da tristeza invadia os pensamentos, bloqueando a esperança. "Estás à espera de alguém ?"- perguntou. "Estava... mas não vou esperar mais" - respondeu Alice. Saltou do baloiço e pegou em Pingo ao colo. De imediato sentiu o poder do sentimento que trazia em si, que estivera sempre lá no seu peito. O afeto que em si mora, através de si se manifesta, basta que seja reconhecido por quem o recebe para que continue a crescer. Alice sorriu e deu um beijo em Pingo, agradecendo a luz que lhe trouxera. Antes de ir embora Pingo quis dizer umas palavras: "Afeto não demonstrado é afeto desperdiçado. Não te esqueças que o afeto é o açúcar da alma, e uma alma doce e afetuosa vai mais longe na caminhada conquistando pequenas gotas como eu todos os dias".


No banco só e abandonado, Alice acomodou-se para calorosamente atender aos seus desabafos. Tantas vezes aquele banco acolhera o Amor e agora ali secava a sua madeira sem brilho, já quebradiça. Alice percebera o murmúrio em que se lastimava e decifrou a saudade. Saudade de um tempo em que esse banco recebia sentimentos sublimes, ouvindo promessas, guardando segredos. Quantas vezes por meio de discussões infundadas detetava desejo, sentindo o calor que emanava dos corpos, para logo a seguir se entregarem numa mistura de energias. Agora que já não brilhava, não queria mais amantes sobre si, bastava-lhe ser o amparo de alguns que como ele precisavam de descanso. Mas ainda assim, um casal de pássaros pousou em si trocando mimos.Alice levantou-se discretamente e seguiu o seu destino pensando " o amor prevalece sempre".





Alice acordou depois de um sonho e respirou de alívio. Pela primeira vez consegue saber um nome. Sem saber explicar como ou porquê, Alice perguntou-lhe como se chamava. E ele respondeu: "Vitor". E foi a partir desse momento que ela controlou o rumo do sonho e conseguiu sair ilesa e acordar. Foi preciso tocar-lhe no coração, foi preciso recordá-lo de algum sentimento para que agisse humanamente e repensasse as suas atitudes. Vitor apenas estava carente e com problemas, precisava de atenção mas no sonho de Alice não escolheu a melhor maneira para a cativar. De repente o cenário fechou-se quando o encontro ocasional se deu. O desespero de Vitor por alguém que o escutasse traduziu-se na força com que segurou o braço de Alice. Assustada implorou que a largasse, sentindo-se encurralada ao mesmo tempo que soltava gritos inaudíveis. Perguntou-lhe o nome e isso bastou para que caísse na realidade. Felizmente Alice teve poder suficiente no subconsciente para alterar a situação e conduzir Vitor para um lugar seguro onde pudessem conversar. Alice acordou sem saber o que o atormentava. Anseia agora pela hora do sono.


Alice está cansada. Cansada da velocidade a que o tempo passa. Já questionou muitas vezes se é o tempo que passa por ela ou se será ela que corre através do tempo. O tempo está sempre lá para todos, permanecendo inalterável, sempre com o mesmo ritmo, no mesmo espaço. Mantém-se, portanto. Tudo o resto é limitado precisamente pelo tempo. A cronologia não pode ser invertida. O tempo é o senhor de tudo. Impõe-se desde o começo, a origem, que evolui e tem um fim. Nascemos, crescemos, morremos. A morte vem no fim do percurso de tempo que nos é concedido. Não dá para inverter. Os verbos são conjugados em tempos verbais. Tudo depende do tempo e dizer "dar tempo ao tempo" é uma perfeita loucura ! O Tempo tem o tempo todo de todos ! Nós é que temos de contrariar o tempo ocupando o seu espaço da melhor maneira possível, não deixando lacunas no tempo que nos é concedido. Dar o nosso tempo a alguém é dar um pouco de nós, um pedaço da nossa vida que não volta. Alice conclui que o tempo é o que de melhor se pode dar a alguém por isso tem de valer a pena para não sentirmos que nos roubaram o tempo. Mas... e o amor onde fica ? O amor precisa de tempo para se revelar, de espaço para se dar no tempo e é a melhor forma de aproveitar o tempo.
Alice segue, confiante, porque o amor sempre ocupou espaço no tempo da sua vida.







Alice trazia no coração a esperança do advento que lhe fora cuidadosamente transmitida ao longo dos anos que rapidamente passaram sem que por eles desse conta. Mantinha a fé, o entusiasmo, o desejo de reunir a família para que o Natal voltasse a fazer sentido. Como todos os anos, a morte baixava à Terra espalhando o seu fedor. Alice receava sentir esse cheiro nauseabundo que todos os anos ameaçava os mais debilitados da família. Este ano não seria exceção. A precaução e o medo instalara-se. A família dividida era uma falha a eliminar pois era como um muro com brechas, enfraquecido pela força do vento. Alice sentia frio de vez em quando sem distinguir se seria a morte a rondar ou o espirito mau do Natal a querer castigar a falta de união familiar. Alice sabia que era possível. Era possível unir a família, sim. Mas essa possibilidade incluiria a presença da morte. Só isso iria dar uma lição a todos, só isso iria aproximar e unir a família. Alice, sentada à porta no baloiço sobre a neve, olhou para o céu fixando a estrela mais brilhante e desejou que a vida expulsasse a morte. Sabia que ficariam separados fisicamente, mas a sua alma estaria tranquila e o Natal faria sentido porque o amor vence tudo.






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