A vida e a morte
É preciso perceber que a vida e a morte são uma só. O contacto com a morte faz com que a vida adquira presença. A Natureza faz com que esqueçamos a morte da mesma forma que esquecemos o corpo mas os dois estados estão ligados e é através da meditação que tomamos consciência disso. Nascer é tomar um corpo; morrer é libertar esse mesmo corpo. Para se viver num alto nível de consciência é preciso adquirir um alto nível de incorporação. Despertar o corpo é o segredo para o próprio despertar. Renderes-te aos sentidos passa pelo conhecimento do prazer dos sentidos mas fá-lo de forma consciente, que a morte pode esperar-te numa sensibilidade desprotegida. Viver é sentir, conhecer, partilhar, realizar para concluir. Realizar é compreender, e assim se reconcilia a vida e a morte.
O texto acima é uma tradução pessoal de uma página de um livro que aborda várias reflexões. Li e fez-me pensar em muita coisa. Não sabemos lidar com a morte, recusamos-la, afastamos a ideia de morte de qualquer situação. Pois bem, se o espírito procura um corpo para encarnar e assim nascemos, também o espírito reconhece o momento para libertar o corpo naquilo a que chamamos morte (obviamente apenas do corpo). Vivemos de forma despreocupada sem sequer observarmos a nossa respiração, condição imprescindível para vivermos ! É perante a consciência da morte que tomamos a consciência corporal e isso é feito através dos sentidos, explorando cada um deles. Comemos sem pensar no acto de mastigar, saborear, sentir a textura da comida, como a comida ocupa o espaço bucal, os movimentos dos maxilares, os dentes utilizados, a ondulação da língua e dos sabores ao longo da mesma, a salivação, e nem reparamos que sustemos a respiração quando engolimos. E no entanto, basta suprir um dos sentidos para todos os outros se aguçarem. Note-se que as coisas mais prazerosas são feitas de olhos fechados: um beijo, um tatear o corpo do outro, o saborear um alimento gostoso, ouvir um som agradável, cheirar o perfume de uma flor... Isso é consciência corporal ! É estar vivo e realizar a vida ! A morte é o fim de um ciclo. Um ciclo em que desencarnamos um corpo enquanto espírito para voltar a encarnar noutro. E isso acontecerá a todos, acabada a missão neste plano. Cada um tem o seu caminho, a sua função no Todo do qual faz parte e o tem em si até ao dia em que escolhe partir. Não nos apeguemos a nada pois tudo é transitório. Apenas levamos o que trouxemos; acredito que as memórias sensoriais ficam gravadas no nosso registo espiritual juntando-se ao conhecimento de uma aprendizagem contínua que transportamos neste multiverso complexo. Não podia ser de outra forma.
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