Entre um gole de café e outro, Leonor pousou a caneca em cima dos papéis de contas já pagas ao longo da semana. Inspirou fundo e expirou pela boca. Pegou outra vez na caneca para ver se ainda tinha café e satisfeita deu mais um trago. O café sempre a reconfortou. Talvez venha daquelas tardes em que a avó preparava a cafeteira velha com café comprado numa ida à cidade, e acompanhava com umas fatias douradas. Aquele aroma quente e envolvente pela doçura com que fora preparado... Que vida tão boa ! Era um tempo em que nem sabia que era feliz ou que o tempo passava depressa. Tinha todos os sonhos do mundo guardados no coração e ganhavam força em cada abraço que a avó lhe dava, carregadinho de amor. Olhava agora pela janela e avaliava o que fora em criança e o que era em adulta. Nunca sabemos o que nos está reservado, o que nos espera em cada esquina da vida. A avó que sempre tinha uma palavra reconfortante e sábia já não estava presente fisicamente. Leonor perguntava-se muitas vezes q...